sábado, 17 de novembro de 2007

.:Dos sonhos:.

Para quem sempre está.

Anoiteci-me. Cantando-te segredos com assovios. Contando-te amores nos dedos, com o sono.
Sonhei-te. Pulsando leve, louco, sempre. Em meus sentidos contrários, aos avessos.
Sonhei-me em ti. Aberta. Como ferida em carne viva. Como paixão ardendo sem queimar.
Anoiteci-me. Iluminando estrelas, inventando eclipses lunares contigo sendo a outra metade, crescendo as notas. Dos meus sussurros ao seu ouvido.
Ensaiei fechar-me inteira e despertar. Pisquei-te e lacrimejei-me. De desejo, de querer intenso, de eterno. Do que não sei guardar por não caber-me.
Lacrimejei-me escorre(ga)ndo. Sem pingar. Lacrimejei-me de transbordar. Como rio no mar. Como ria em sonho.
E nesse abismo de sim e não. E nesse abismo de quase e talvez. Voamos. Ao errar o chão. Porque fizemo-nos conto, de fadas, em aviões que faziam-se verão e inverno, só olhar.
Sonhei-nos nus. Um apenas.
Na hora exata, amanheci o dia. Amanheci-me, despertei. Você ao meu lado, diariamente. Mesmo não.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

.Só.

Estar sozinho é engraçado, louco, angustiante, libertário e triste, tal qual estar com alguém.
No entanto, estar sozinho é absolutamente o oposto de estar com alguém.
Estar sozinho é fechar as mãos no nada quando se atravessa a rua correndo e não se tem uma mão para segurar.
É acordar sem saber o que será do dia porque planejar sozinho dá preguiça.
É falar a coisa mais engraçada do mundo para alguém que não vai rir, porque ninguém te entende tão bem.
É ficar louca sem cúmplice. Não tem graça ser fora da lei sozinho.
É querer contar tanta coisa para alguém, mas para quem?
A vida simplesmente acontece para quem está sozinho, às vezes sem que a gente perceba, pois é mais fácil ter noção de si mesmo através de outra pessoa.
Estar sozinho é fazer dengo sozinho na cama, sem ninguém para apenas encaminhar o ombro um pouco mais perto.
É comer doce demais porque sua boca precisa de um incentivo para continuar salivando vida.
É comer doce demais porque estar sozinho dá uma tremedeira estúpida de hipoglicemia.
É o doce que substitui mal e amargamente o sexo.
Estar sozinho é dormir até tarde no domingo. Não para congelar o tempo na alegria, mas para fazer de conta que o tempo não existe.
É conviver com a ansiedade de que você pode encontrar alguém especial a cada esquina, então você tenta ficar bonita. Mas seus olhos não mentem o cansaço da espera e a tristeza de estar solta, e você fica feia.
É ter a sensação de que ninguém te olha, pelo menos não como você gostaria de ser olhada.
Estar sozinha é estar solta e, no entanto, é estar amarrada ao chão porque nada te faz flutuar, sonhar, divagar.
Estar sozinho, ou estar sozinha, pode acontecer com qualquer um. E você torce para que aconteça com a sua melhor amiga, ou com aquele homem que você gostaria de experimentar como uma pílula para a sua solidão.
Estar sozinha é não suportar ouvir a palavra solidão porque ela faz sentido. E o sentido dela dói demais.
Estar sozinho é ter uma risada nervosa, de quem segura um grito e um choro enquanto ri. Um riso falso para se convencer de que é possível ficar sozinho sem ficar deprimido.
Estar sozinho é usar roupas provocantes sem se sentir sexy com elas. É conferir a caixa de e-mails com uma freqüência que beira a compulsão. É chorar do nada. É acordar do nada. É morrer de medo do nada que fica no estômago.
Estar sozinho é uma coisa física, ou melhor, é a falta dela. Você se sente oco por dentro, por isso aquele respiro profundo de lamentação.
É cogitar enlouquecer.
O ombro pesa porque é tenso ficar sozinho. E porque não tem ninguém pra te fazer massagem também.
Quando chove, venta, escurece, e você está sozinho, você lembra de Deus e do quanto é pequeno.
Estar sozinho é se aproximar de Deus por piedade própria e não por agradecimento, que é o que nos faz aproximar Dele quando estamos amando.
Estar sozinho é detestar ficar em casa. Ficar em casa sozinho, quando se está sozinho, é muita solidão.
Então você sai, só para não ficar em casa sozinho. E descobre o quanto você é sozinho. E volta pra casa sozinho, e chora vendo fotos.
Estar sozinho é implorar paixão e loucura com um olhar para o carro ao lado, segundos antes de você ver que ele não está sozinho.
É trabalhar para passar o tempo e só conseguir escrever títulos, roteiros, spots e textos chatos, sem inspiração.
É procurar um olhar pela rua e andar por aí com cara de louco.
É estar pronta para algo novo e não agüentar mais dias iguais.
É ocupar a vida de açúcar, intrigas, fofocas, encrencas. Aventuras tortas.
É ocupar a vida dos outros com reclamações, lamentações, dúvidas e carências.
Resumindo: estar sozinho é triste, enche o saco dos outros e deve fazer mal para a saúde.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

.Sem título.


Você é meu sorriso que sai frouxo, puxado por sua graça inconfundível. Você é meu olhar castanho vago perdido no horizonte, em sonho. Você é meu passo procurando abrigo. O encosto onde me descanso. Onde descanso meus problemas, meus sentimentos exagerados. Você é o vento que me pousou leve e ficou. E está, arrepiando os sentidos, engasgando o coração. Doce. Você é o que eu não já esperava, não acreditava. Mas, que veio. Renovando alegrias, enxugando lágrimas. Você é minha aflição ao ver que os segundos não caminham. Você é o meu riscar de dias do calendário. Você é minha espera. Cada letra. Cada nota de canção que escutamos. Você é inspiração ao inverso, que só existe dentro de si mesma, e quando passeia é só em frases, olhares que não se (d)escrevem. Você é inspiração que emudece. Meu Omo Comfort. Meu Twix. E minha disposição em melhorar depois de cada bronca que me dá, ou de cada palavra amável. Você é o que nem sei mais se está em mim ou, se já sou. Um pedaço de ti.

Gostoso Como a Vida Deve Ser

Vou fazer uma retrospectiva. Mas, Polyana, o ano não acabou!. Foda-se, vou fazer essa porra antes que aconteça mais alguma desgraça na minha vida [*cai um vaso do além na cabeça de Polyana, chega um cachorro da rua e mija na perna dela, começa a chover e ela percebe que tem uma goteira imensa no teto*]. Como eu ía dizendo, vou fazer minha retrospectiva.

Janeiro
Não me lembro.
Fevereiro
Não me lembro.
Março
Não me lembro.
Abril
Não me lembro.
Maio
Não me lembro.
Junho
Não me lembro.
Julho
Não me lembro.
Agosto
Não me lembro.
Setembro
Não me lembro.
Outubro
Não me lembro.
Novembro
Não me lembro.
Dezembro
Não me lembro.

Obrigada pela preferência, volte sempre.

domingo, 4 de novembro de 2007

.Pudor.




Eu sou aquelas páginas que ela arrancou, os suspiros que ela abafou, o prazer que ela omitiu, a transgressão, a poesia escondida entre as cartas não entregues...Era pra eu ter sido a brincadeira de uma noite, a sobremesa de um casal, e, da garrafa de champagne, apenas a terceira taça.Depois tive que ser transformada num segredo,numa espécie de doença fatal.



Eu sou a pessoa pra quem ela ligava de madrugada, a quem ela visitava clandestinamente quando ele saía. Eu sou o motivo de todas as brigas que ela provocou. Eu sou a concessão dela aos apelos sexuais dele. E a tentativa de salvar uma relação falida. Mas me tornei um susto, um peso, o imprevisto pra quem tinha sua narrativa sob controle.



Eu sou aquele ponto e vírgula no lugar do ponto final de quem já tinha escrito o último capítulo do seu romance ideal.Ela nem imaginava que pudesse gostar tanto, ir além, sentir saudade quando estivesse sóbria.Eu sou as metáforas novas, a viagem inventada, os quinze dias na casa de serra sem dar notícias alegando que precisava escrever isolada do mundo.Eu sou o orgasmo mais intenso, a febre entre os lençóis,a dança dos travesseiros coloridos.Eu sou o café-da-manhã na cama, o banho de duas horas, o beijo de vinte e cinco minutos.Eu sou o poema que relata o encaixe dos nossos seios e o beijo de todos os nossos lábios. A história sobre meninas, sobre fadas e o violão encostado na lareira pra desocupar os braços pro abraço mais longo.



Eu sou as páginas que ela desistiu de publicar pra se proteger, se preservar.



Fui arrancada da história dela como essas páginas.Fui escondida entre juras de um falso amor que ela fazia a ele. Eu sou as tantas frases amassadas, descartadas da seleção dos capítulos.Mas sou a poesia escrita, tatuada no corpo. Sou a única digital que ela não conseguiu tirar no banho.


Eu sou essa emoção que ela rasgou da narrativa pra que os holofotes se voltassem todos pra sua história de amor mais convencional_eu seria a quebra da linearidade, a falta de estrutura do texto, o capítulo independente do resto do livro, aquele que sobreviveu sozinho.



Eu sou o silêncio deitado nos quartos,a cor do baton no retrovisor do carro.Eu sou o buquê de tulipas invadindo as tardes desavisadamente.Eu sou o final da espera, o amor de outras esferas.


Mas o que sei dele?Era um louco.Muito bem articulado, sedutor e completamente despudorado
e que tem feito eu perder noites de sono e me feito sonhar acordada por dias...

sábado, 3 de novembro de 2007

Pra ninguém


"Meu coração é o mendigo mais faminto da rua mais miserável.
Meu coração é uma planta carnívora morta de fome.
Meu coração é uma velha carpideira portuguesa, coberta de preto, cantando um fado lento e cheia de gemidos - ai de mim! ai, ai de mim!"
Caio Fernando de Abreu

Esse pedaço do horizonte
que insiste sempre
no meu olho esquerdo
- entre os prédios,
é seu. E seu só
quando eu penso no nada
que inexiste
e no seu desprendimento
de vírgula errante
e a falta que faz
mesmo quando está comigo
é ser só
- desatar o nós
da ponta dos nossos dedos.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Paciência



Para a pessoa que tem mudado os meus dias...

Sua voz, um bálsamo
Seu carinho, um presente,
Meu desejo, que fardo
Mas adoro saber o que sente

Uma surpresa ao telefonar
Um afago excessivo a me instigar
Mas quando me confidenciou seu desejar
Meu peito sorri a te esperar

Ah! Que sonho
Que mundo enfadonho
Saber que devo esperar seu corpo
Tanto tempo ... Mas como?

Vicissitudes eu encaro
Com elas convivo
Porém meu desejo, meu caro
É tê-lo ao pé do meu ouvido