terça-feira, 30 de outubro de 2007

M-e-d-o!


“É medo, sei lá”. – mentalizava repetidamente. Como se não conseguisse expressar-se pro papel. A inspiração anterior foi contida. Como a respiração ofegante. Pausava-se. Era como aquelas fitas cassetes antigas, em que a fita se embolava dentro do vídeo, aí se aperta o “eject” e a fita da fita ainda continua presa em algum lugar do vídeo. Depois fala-se logo algo que sirva pra xingar, aí pára e pensa e depois coloca tudo no lugar calmamente. Cal-ma-men-te.

Advérbio de modo que cansa de usar. Odeia advérbios de modo, mas usa-os o tempo inteiro. Pra quê tanto português, menina? Faz diferença o incluído e o incluso? Quer provar que não é exatamente um particípio? Quer provar o quê, menina? E a fita da fita cassete ainda está lá, presa em alguma peça que ainda não descobriu. “Droga!” – já começa a xingar. “Droga, droga, droga!” – já está xingando repetidamente. Re-pe-ti-da-men-te. Oh! Outro advérbio de modo! “Ai, que vontade de chorar...”

“Deixa-me quieta, me deixa.”- lamenta-se sozinha. Seus demônios a afastam de si mesma. Seus demônios a afastam de todos.

“Desenrole a fita, menina, desenrole.” – alguma voz diz sabe-se lá de onde. Só que ela não quer escutar, quer ficar quieta, quer remoer-se por dentro, quer morrer ali, sozinha.

Deixem-na chorar.
Deve ser medo, sei lá.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

[puta merda, eu precisava dar uma boa relaxada. tem aquele lance de respiração pra relaxar, não tem?! não custa tentar]
inspira...
expira...
inspira...
expira...
inspira...
expira...
inspira...
expira...
inspira...
expira...
inspira...
expira...
inspira...
expira...
inspira...
expira...
inspira...
expira...
[repita mais 62198432196843 vezes, poly! bora lá! é rapidinho:]
inspira...
expira...
inspira...
expira
inspira...
expira...
[que porra... essa buceta de respiração pra relaxamento só funciona no cu da mãe de quem inventou]
inspira...
expira...
inspira é o caralho! vou ali tomar uma coca que eu prefiro uma gastrite a uma convulsão.

rascunho de choro

(Silenciosa) Oi. Será que você pode me bater? (quase desesperada) Um tapa na cara, certeiro. Precisa ter olho no olho, parecer verdade... Talvez assim já sirva. (espera) Será que você pode? (pausa) Eu queria poder chorar. Não... Eu não choro. Já tentei alguns motivos, metáforas, imagens, tristezas, tragédias... Mas o choro nunca é assim. (Está suando muito) Essa agonia de viver fraco, o peito extravasado... Você podia me dar um motivo pra chorar? (Pausa. Olha fixo nos olhos. De repente começa a correr. Correndo) Mas o que é que eu faço se você não gostar da minha lágrima? Eu devo ter medo de chorar. Eu devo esconder alguma coisa na lágrima, e queria saber o que é. (Ofegante) Na verdade eu só queria chorar. Um pranto avulso. (Pára. Enruga a cara. Aperta o peito. Sufoca. Seca.) Será que você podia me dar um motivo pra chorar? É que sozinha eu não consigo. (Olha fixo nos olhos. Crise de tosse)


quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Causa



Pedaços de mim, como um pequeno quebra-cabeças incompleto, vão se desmontando lentamente e caindo em montinhos moderados um em cima do outro, juntando o que era passado, separando o que era futuro e agrupando em ordem crescente o que talvez seja esse presente desmantelado. Vê?

Qualquer música toca num compasso bobo e enfeites de circo maquilam os momentos para que pareçam mais bonitos quando a lembrança teimar em acordá-los para dançarem a mesma música de sempre nesse compasso bobo.

Eu estou ficando cansado de começar de novo, em algum novo lugar. Querer morrer é singelo. A gente desiste de tudo do impossível da vida e depois desiste da idéia. Os peças dessa coisa torta e feia se grudam uns aos outros e me parece faltar mais pedaços no que no começo. Não adiantou nada. Nos desmontamos e continuamos incompletos, porque jogamos no lixo aquelas partes que não gostamos de recordar. E isso é o vazio. Esses buracos brancos na parede, que não têm pedaços ou enfeites de circo e é tão morto quanto o espaço morto do principio. Me faz querer chorar, o vazio. Mas já chorei tanto..